quarta-feira, 21 de novembro de 2012

LABUTA SERTANEJA


Chicote de couro lapiando um couro
Apressando quatros patas a andar
Ferro, madeira, uma corda a guiar
O homem atrás do que antes foi touro

A terra é ferida no encontro com o arar
Prepara-se para um inverno vindouro.
Pro sertanejo mais importante que ouro
Cicatriza-se com as plantas a florar

Homem, boi, terra e capinadeira
Um trio sofrido de missão altaneira
Seis pernas, três enxadas, uma roda

Unidos na mesma luta pela engorda
É seus buchos que dita à maneira
Assim, o lapiado com o lapiador concorda


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O PAU QUEBROU NO CÉU


Num faz muito tempo não
Que minha mãe me pariu
Quase morre desnutrida
Inda bem que resistiu
E o danado do eu
Na hora de chorar caiu

A vida me deu um golpe
Desse bem traiçoeiro
Nasci feio, mago e doente
Sem nome e nem dinheiro
Preguiçoso e desatento
Dorminhoco e bandoleiro

Nem rezar eu aprendi.
Nem a cavalo andar
Cortar lenha e capim
Muito menos campinar
Única coisa que sabia
Era pra escola estudar

Num me vejo fracote
Pois a fome me esfolou
Meu corpo era sofrido
É só doença conservou
Mas na escola eu sonhava
Em um dia ser doutor

Acabar essa miséria
Que o meu corpo matava
De fome e de tristeza
Pela carência que passava
Comer e viver bem
Era somente o que pensava.

Estudei como um louco
Pra uma boa vida ter
Levava os estudos a sério
Pois queria aprender
E quem sabe um dia
Essa angústia reverter

Num demorou muito tempo
Meus estudos terminei
Liso, pobre e moribundo
Mas os sonhos conservei
De um dia ganhar dinheiro
Pois pra isso estudei
 
Logo logo o resultado
Em um concurso passei
Fiquei contente, saltitante
Pensando da fome me livrei
Depois de muitos anos
Ao trabalho eu ingressei

Era um bom dinheiro
Um carro pensei comprar
Uma feira grande e boa
Uma casa para morar
Roupa boa e bonita
Pra sair pra passear

Quase no final do mês
Esperando o soldo receber
Dar-me uma dor no peito
Que fiquei pra morrer
Deu uma escuridão na vista
Fui caindo a tremer

Acordei num lugar de luz
Sem saber aonde cheguei
Abriram uma porta grande
Desconfiado eu passei
Com passos cautelosos
Pelo salão caminhei

Veio um caba bem vestido
Encontra-me pelo salão
E disse todo sorridente
- São Pedro ta em reunião
Aguarde um momento
Vamos fazer sua inscrição.

- Eita bexiga taboca
Parece que eu defuntei
Mas homi, num pode ser
Agora que a vida ganhei
Perai, deve ter algo errado
Eu apenas desmaiei

O anjo todo sorridente
Prático na psicologia
Disse mostrando o céu
- Aqui será sua moradia
Esse lugar é perfeito
Sem fome e sem maruzia

- Ei senhor, de jeito nenhum
Podem mudar essa relação
Deve haver algum engano
Vocês confudiram o listão
Agora que eu ia viver
Ia ter leite e muito pão

Deixe de covardia rapaz
Que negócio mas sem graça
Se era pra me trazer
Porque não no tempo da desgraça
Que passava fome e frio
E dormia em banco de praça

Agora que eu ia ter dinheiro
E minha vida melhorar
Vocês num tem o que fazer não?
Resolveram me lascar?
No melhor momento da vida
Decidiram me matar

Diga-me quem fez a lista
Que quero ir resolver
Onde já se viu isso
Tanto Santo a me fuder
Quem autoriza essas mortes?
Precisa a lista rever

O anjo todo imponente
Imperoso feito um político
Disse-me olhando nos olhos
- Só faço o que me aplico
Se conforme com a morte
Seja educado, pois não complico.

Olhei para o anjo e falei:
Rapaz eu sempre fui bom
Nunca na minha vida
Consegui sair do tom
Sempre fui prestativo
Manso feito um garçom.

Nunca briguei na vida
Com medo de apanhar
Pois era fraquinho
Não sabia nem brigar
Nunca fiz mal a um inseto
E vocês resolvem me matar

As cabas de peia
Nesse céu a habitar
Parece os políticos brasileiros
Lá na terra a roubar
Não sabem nem o que fazer
Mas não deixa de mandar.

Porque não o povo ruim
Que vive ai a tumultuar.
Faça uma lista de ladrão.
Tenha certeza vai bombar
Político e Banqueiros  
Esse salão irá lotar.

Ai vocês resolvem trazer
Um caba como eu
Que passou a vida inteira
Só fudido no breu
Justamente na horinha
Que ia acabar meu liseu

Sua política de seleção
Deve ta ultrapassada
Ou vai dizer que no céu
Também tem marmelada
Não basta mensalão na terra
Seu Joaquim julga a tonelada

O danado do anjo
Nem fez conta deu
Olhou de supetão
Com o dedo respondeu
Vá se assentar ali
Você teve o que mereceu

Eu nunca fui de tumulto
E nem um desrespeitador
Mas quando escutei isso
O meu peito se inchou
Dei um chute na prancheta
Que o anjo se assustou

Um tamborete novinho
Que são José havia feito
Dei um chute bexiga
Desmanchando de todo jeito
O bicho bateu na parede
Tirando da tinta o eito

Dei uma voadora
Na porta da reunião
A bicha se esbagaçou
Sai bolando pelo chão
Só parei porque bati
Nas pernas de São João
 
Ali tavam resolvendo
Onde teria mais calamidade
E santa Efigênia grita
Que isso? por caridade.
Santo Antonio diz:
É revolta da humanidade!

Quebrei umas cabaças de vinho
E as flechas de são Sebastião
Nos cachorros de São Francisco
Dei uma pisa de cinturão
Montei no cavalo de são Jorge
E quebrei por inteiro o salão

O espelho de santa Luzia
Que uma chapinha tava a fazer
Quebrei em mil pedaços
Ela começou a se tremer
O Tablet de santa Rita
Que no Facebook a entreter

Joguei dentro de uma tangue
Ela ficou pra morrer
Até que apareceu
São Paulo pra me prender
Ainda tomei o celular
De uma santa sem querer

Revirei uma mesa grande
Da bancada de São José
Serrote, alicate e prego
Danei o martelo num pé
Só escutei o grito.
Tadinho do São Tomé.

Foi cabaré bixiga
O céu ficou esbagaçado
Tinha Santo rezando
E outros desconfiado
São Pedro debaixo da mesa
Acho que tava mijado.

Perguntei quem era o autor
Dessa lista indecente
Apontaram São Silvestre
Disseram ser competente.
-Mas, mataram um coitado
Que na verdade é inocente.

São Silvestre disse: amigo
Veja o que aconteceu
Pode ter havido erro
E o culpado não sou eu
Adquirimos um Software novo
Talvez disso o erro ocorreu.

Mas vamos checar
Para não ter confusão
Se não era seu dia
Se ajeita a situação
Não carecia tanta baderna
Numa coisa dessa não.

Nisso entra Jesus
Procurando se interar
O que aconteceu aqui
Alguém pode explicar
Maria madalena se chegou
Começou a história narrar

Jesus nos perdoe
Pelo que aconteceu
Não temos culpa alguma
Sobre o que ocorreu
Esse jovem revoltado
Tá furioso porque morreu

-Jesus você é um caba bom
Perdoe minha indecência
Mas ser sacaneado no céu
Deve ser por negligência
Matar um caba como eu
Deve doer na consciência.

Quarenta e cinco ano fudido
Nem hóstia em missa provei
Ainda pagava água e luz
Rezei tanto que me machuquei
Ta qui a ferida no joelho
Das vezes que lhe implorei

Ai agora que me ajeito
As coisas a funcionar
Me vem uma dor no peito
Nem o salário vou gastar
Ai esse seus funcionário
Ainda vai me desacatar

Jesus alisou a barba
E pensou no que dizer
Realmente ta injusto
Vamos pensar o que fazer
Matar um pobre coitado
Que agora ia viver

Andou sentou andou
A lista pediu pra olhar
Foi olhando e foi dizendo
Eita tem erro pra danar
É erro de grafia
Podemos concertar

É que depois do facebook
Ninguém escreve correto
Depois que automatizei o céu
Esses erros é direto.
Falta acento, falta letra
Mudaram de vez o alfabeto.

Tem uns estagiários de santo
Que ta um caso a rever
Só vive de bate papo
Nada mais quer fazer
Só lançando um edital
Pra um concurso ter.

Eu disse dar o céu aos bons
Esse povo nem sabe pensar
Eu falei por metáfora
Era pra a eles ajudar
Melhorando a vida na terra
E não trazendo para cá

Me desculpe seu Severino
Esse erro do povo daqui
Volte pra sua terra
Esqueça que esteve aqui
Parabéns pelo o esforço
Viva em paz pode curti

As feridas de seus joelhos
Elas não foram em vão
Nem quando você
Acreditou na educação
Daqui de cima lhe aplaudi
E te mandei essa benção.

Rapaz depois disso
Acordei no meu setor
Parecia ter sido um dia
Mas só uma hora se passou
Pensei ter sonhado
Mas um detalhe denunciou

Minhas mãos tava inchadas
Do murro que dei na mesa
E o meu sapato rasgado
Pra aumentar a surpresa
Foi dos chutes que dei
Do agir com aspereza

Descobri que lá no céu
A coisa é truncada
É como aqui no Brasil
Só funciona na porrada
Tem muito arrumadinho
Só trabalham na mamada





































quinta-feira, 6 de setembro de 2012

frases do linosapo


“Um dia serei eu, e não mas existirei, mas lembrarei de mim.”

“Ensinaram-me sem saber e eu aprendi sem perceber”

“Não minto pra mim para não ter que viver como um covarde ao mesmo tempo em que serei um idiota”.

“Horror não é ver seu corpo sendo assassinado pela fome, e sim, com isso, seu espírito suicidando socialmente”.

sábado, 25 de agosto de 2012

SONETO DE RECOMEÇO




Hoje senti o ontem me dividindo
Foi agora nesse justo momento
Acordou o medo que vivia dormindo
Vindo ao chão antigo juramento.

Observei a razão se curvar a emoção
Um homem voltar a ser menino
Viajante caminhando sem direção
Sem saber lidar com o destino

Uma parte rendida por desejos
A outra dependente de beijos
 E o EU, sem sozinho poder caminhar.

É o novo que determina seus passos
Do antigo nem ao menos rastos
E o cético do amor volta a amar


domingo, 22 de julho de 2012

FLORA DEVASSA


Quem dera eu fosse uma árvore
Para me despir aos olhos da lua
Fazer amor com o sol em plena rua
E nas madrugadas frias
Sem pudor amanhecer nua

Quem dera eu fosse uma árvore
Para debaixo do céu azul verdejar
Desgalhando para se embelezar
Ser possuída pelo orvalho da noite.
Sem nunca sair do meu lugar

Quem dera eu fosse uma árvore
Para me embebedar com os raios solares
Ser para os pássaros seus lares
Em meus galhos fazerem amor
Cantando-os alegres em pares

Quem dera eu fosse uma árvore
Para o sorriso ser uma flor
De folhas, as roupas e o cobertor
Com o vento poder dançar
Sem fazer distinção da cor

Quem dera eu fosse uma árvore
Para com a terra deflorá
Minhas raízes em sua entranha penetrar
Gozar com todas minhas sementes
E em seu ventre germinar

Quem dera eu fosse uma árvore
Para da prisão humana fugir
Fazer o vegetar ser o existir
E Quando eu morrer
A terra meus filhos parir



LINO SAPO 

22/07/2012