terça-feira, 28 de maio de 2013

JESUS O JUDAS E EU

Pode parecer mentira
Mai é verdade e pura
Faz tempo mai me alembro
Dos detalhes da lesura
Era eu um frangotinho
Um ispeto de finura

Na cachoeira do sapo
Alegria era muito difiço
Qualquer coisa animada
A gente fazia ribuliço
Seja debuiando feijão
Ou preparano choriço

Festa só na semana santa
Todo mundo a isperar
Uns pedia bença aos padim
Outros galinha iam roubar
Cunzinhava a meia noite
Prumode cum cana tomar

Mai o mior disso tudo
Era o Judas puder judiar
Dar-lhe um samba de pau
Inté a roupa rasgar
Dispindunrar num poste
Cuma corda a inforcar

Eu tinha oito anos
No ano de oitenta e nove
Criado na vista da mãe
Há inda quem comprove
Só saia se fosse cum ela
Isso inda me comove

A boca da noite eu drumia
Logo após o jantar
Matutando em minha rede
Que ficava a balançar
Cum os pés na parede
Indo pra lá e pra cá

Nos domingo de manhazinha
No catecismo ia estudar
E a primeira comunhão
Dois anos sem realizar
Devido as dificuldade
Queu vivia a passar

Mai aprendi direitinho
O que o padre ia preguntar
Tava cum toda resposta
Mai a roupa num pude comprar
Calça, camisa nem o sapato
Tombém ninguém quis imprestar

No catecismo eu aprendi
Sobre a vida de Jesus
Um caba muito bom
Que foi pregado na cruz
Uma bicha muito pesada
Que no lombo ele conduz

O homi era abençuado
Só insinou o que era bom
Andou pelo mundo a fora
Sem nunca sair do tom
Deu peixe, pão até vinho
Mai curar foi o grande dom

E devido um severgonho
Em troca duns trocados
Cometeu a maior traição
Inda beijano o iluminado
Entregou Jesus prus romanos
Um povo rim danado

Esse caba safado
Era da turma de Jesus
Dizia ser caba honesto
Gente boa, de paz, de luz
Mai pur trinta prata
O vendeu como cuscuz

O nome do bixiguento
Era Judas do chicote
Se não falha a memória
Ou era Judas do caçote
Sei que começava cum judas
E terminava com ote

adispois que vendeu Jesus
De disgosto se inforcou
E as muedas que recebeu
O danado nem gastou
Morreu duas vezes covarde
Traino quem tanto o ensinou

Hoje na semana santa
Essa histora é lembrada
Do sofrimento de Jesus
Do tamanho da marmelada
Do Judas ganancioso
Da traição planejada

Purisso que todo ano
Um Judas de pano se faz
Meia noite da sexta feira
A peia come voraz
O Judas apanha tanto
Sem pristigio e sem cartaz

Aqui em Cachoeira do Sapo
È tradição todo ano fazer
Um Judas grande e pesado
Pra mode nós bater
Dar-lhe inté ficar em tiras
Pelas ruas a iscorrer

Era um sonho meu
A traição de Jesus vingar
Quebrar Judas no cacete
Cacetalo inté cansar
De bufete e ponta pé
Inté de cama ele ficar

Mai como eu sabia
Isso num é mai permitido
Já faz tempo, foi outra época
O momento do acuntecido
Mai juro como quiria
Quebrar os dentes do atrivido

Mai quem num tem cachorro
Cum gato  pode caçar
Um Judas de pano pode
O verdadeiro representar
Entonce os murros nesse
Minha cede vai saciar

Filé era um caba daqui
Que Judas gostava de fazer
Entre uma dose e outra
Cumeçava o bicho cuser
Cum gancho de algaroba
Iniciava o proceder

O gancho era as pernas
Que tinha o mesmo tamanho
A outra parte ia inté a cabeça
Só os braços era laganhos
No tronco da cabeça um cabaço
E nem ficava estranho

Vistia uma camisa de manga
E uma calça cumprida
Nos pés um sapato veio
Inchido só cum imbira
As mão umas luvas veia
Amarrada cumas tira

A cabeça dum cabaço
Um  boné pra infeitar
Ainda butava um cinto
Pra conseguir amarrar
È que de tanto pau e rama
O bicho ficava a estufar

Quando me contaram
Que Filé um Judas fez
Fiz carreira inté mãe
E pedi mai de mil vez
Pur favor deixe eu ver
Ela só disse talvez

Quando a noite chegou
Mai avoroçado eu fiquei
Dava murro na parede
E treinava no ispei
Os bufetes que ia dar
Partir o triste no mei

Seria uma chance única
De com Judas me acertar
Cobrar tin tin por tin
O que fez Jesus passar
Era hoje que Judas aprendia
Nunca mai trapacear

Num é que mãe permitiu
Deixou eu na rua ficar
Só inté bater no Judas
Adispois teria que vortar
Fiquei filiz e sorridente
E disse pode deixar

Na rua a ixpectativa
Me deixou ouriçado
Eu já mei cum sono
Mai de oios arregalado
As mãos já tava coçano
Pra bater no danado

A meninada turcia
Pru Judas aparecer
Tinha nego cum cacete
Outros quereno ismurecer
E eu todo animadim
Vou ser o primeiro a bater

Zé da cuia e mané
Niltão e Tião caçuar
Tava também paçoca
Luiz de tonha e preiá
Geraldin e bastião
Eu e Chico do juá

Quando agente oia
A peste vinha chegano
Filé agarrado cum Judas
Chega vinha trimilicano
A bexiguento pesado
Chega filé ta suspirano

Fiz carreira pra riba
E a turma acompanhar
Sapecaram Filé no chão
E no Judas pegue dar
Procurei o mior jeito
Pra uns tabefes acertar

Rapaz que azar da gota
Num sei cuma aconteceu
Rodaram o peste do Judas
Que chega me ensurdeceu
A bota foi no meu peduvido
Chega à vista iscureceu

Fiquei um pouco afastado
Tentando me recuperar
A ureia tava quente
E os zuvidos a assubiar
Ai foi que a raiva aumentou
Agora eu vou estraçalhar

A negrada meteram o pau
Chega a pueira cobria
Num vai ser puruma pezada
Quesse caba curria
Vou partir pra riba
Pru meio da pancadaria

Parti pra cima do Judas
Chega os oios chorava
Vi a cabeça do bicho
Que na minha direção tava
Butei toda força na mão
Dessa vez eu acertava

Ou murro bexinguento
Chega o cabaço quebrou
A mão ficou durmente
A cabeça se esbagaçou
Pegue Judas safado
Fie duma egua seu traidor

Parei mai uma vez
Cum minha mão a doer
Ou murro violento
Serviu pr´eu aprender
Quando o cabaço quebrou
Nem pude perceber

Acertei o tronco dalgaroba
Que a cabeça tava a sustentar
Dismiti os dois dedos
O indicador e o polegar
A dor da besta ruzia
Parei logo o espancar

Enquanto eu chorava
Cum a mão a balançar
Jogaram o Judas pra riba
Parecia que ia vuar
Caiu bem no meu espinhaço
E eu só fiz derriar

Na queda furei a testa
As costas só fez ralar
Inda teve uns engraçados
Eu e o Judas a arrastar
Pur mai de vinte metros
Só fartaram não sortar

Adispois do roçoi de peia
Eu tava todo quebrado
A mão e a ureia inchada
Sujo e todo rasgado
Mancando e cum vergonha
E o rosto ensangüentado

Fui pra casa intristecido
Sem nem querer falar
Quando cheguei im casa
Fui logo me deitar
Rezei baixinho e disse
Jesus perdoe meu fracassar

O Judas é um caningado
Num deu pr´eu me vingar
Apanhei feito um jumento
Nem sei se ainda vou escutar
Enquanto vida eu tiver
De Judas num quero falar

O senhor me perdoe
Prumode que fracassei
Num sabia qu´era assim
Mai agora eu sei
Quando se falar im Judas
Eu saio até do mei

Agora a semana santa
Só quero é descansar
Já faz ano mai alembro
Da pisa que fui levar
Dum Judas de pau e pano
Que só fartou mi matar

Quero comer bolo preto
Feijão verde cum galinha
Nem quero esse negócio
De dar uma olhadinha
Quem quiser dar que dê
Não é mais a minha

As cicatrizes inda tenho
E demorou cicatrizar
Enquanto eu viver
Pra sempre vou me lembrar
Da pisa que levei dum Judas
No intuito de me vingar





Lino-Sapo

TRANSFIXOU-ME


Um segundo, apenas num segundo
Pude enxergar em seus olhos
Nesse instante quis ver teu mundo

Um minuto fiquei pasmo com a luz
Afugentado e algemado pela cor
Escravizado, carente de amor

Uma hora sob esse brilho que reluz
Voei no desconhecido que me conduz
Como colibri em busca de flor

Um dia inteiro contemplando teu ser
Que Deus criou com delicadeza
Dando mais sentido ao meu viver

Um mês alimentado por essa beleza
Momento que pude compreender
O amor só floresce onde há pureza.

Um ano é pouco tempo pra te amar
Segundo, minuto, hora, dia, mês, ano
Ainda é pouco pra lhe ofertar

Uma vida é o que tenho na verdade
Sacrificarei por esse amor que amo
Nessa vida e durante a eternidade

quinta-feira, 9 de maio de 2013

PLANTANDO PINGO DÀGUA





Minha cacimba secou mais uma vez
Os braços já não aguenta mais cavar
A última vaquinha bebeu, mas se engasgou
Morreu matando o que vivia a lhe matar
E minh`alma adormeceu pra não me ver chorar

O terreiro batido já se enfeitou de couro e ossos
Do meu gadinho que há tempo defuntou
Já não tem barragem, açude, rios ou poços
Apenas uma torrente de remoço ficou
Num assovio uma canção pra distanciar a dor
A tardinha entre tanta carcaça contemplo o que sobrou

Sob o trago da fumaça da piúba dum brejeiro
Alegra-me um relâmpago na barra quebrar
E como um sertanejo sofrido, mas guerreiro
Meu roçado em pensamento começo plantar

Com a enxada da esperança cavo o chão que tudo faz nascer
No matutar dos meus sonhos quero todo o sertão plantar
Plantarei bilhão, decilhão, vigesilhão de pingos dàguas
Pra quando eu começar a colher
Quando for no tempo da fartura
Quero todos os silos da terra encher
E a seca que a tudo consome eu possa erradicar.
E a assim, nunca mais no meu torrão ver, bicho de fome e cede morrer.

Lino-sapo