quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Rotina de Famingerados

  Lembro-me de minha rotina e meus sonhos, acordava as 6:oo da manhã ia para o casulo, antes comia aquele escaldado de leite com farinha ou uma farofa de óleo feita com colorau e cebolinha acompanhada de um café de Bajé de algaroba adoçado com rapadura, porque o açúcar acabara. Ao voltar tinha feijão com farinha pra comer fazendo macaco, com piaba assada ou preá torrado, mas disso eu já tava abusado, minha mãe então trazia leite pra eu comer com jerimum, mas eu também não queria e me amuava, e ela usava sempre a expressão: “o comer dos amuados, engorda os enjeitados” e dava meu comer pra outro.
     Eu queria outra coisa, queria picado ou buchada, e quando via que não conseguia começava a chorar, até que ela vinha me adular com farinha com açúcar ou ximbel, no entanto, minha raiva não deixava eu aceitar, então ia pra casa dos meus amigos e lá comia batata assada ou puxa-puxa de rapadura. Às vezes, quando as coisas tavam boas na casa do vizinho, comia fubá de farinha de milho ou doce de Bajé de algaroba, mas quando não tinha nada, pegava minha baladeira e ia pro mato, lá eu comia incor ou gogoia.
 De tarde quando voltava minha mãe fazia beijú no caco com farofa de leite para o lanche vespertino. Quando à noite chegava o quarenta já tava na panela, mas o fogo que fumaçava ainda estava preparando o café do meu pai pra ele levar pro minério, era um pão de milho feito numa cuscuzeira de barro todo enrolada num pano. Só que eu e minhas irmãs queríamos angu de xérem, o quarenta era salgado e a gente não gostava.
    Minha mãe sempre boazinha dizia: amanhã eu faço baião de dois, e assim nossa vida seguia. Nos finais de semana as coisas mudavam, no café tinha bolacha, para o almoço, as vezes quando tinha, minha mãe matava uma galinha e minhas irmãs já preparavam o cozinhado das tripas da penosa. A noite tinha cuscuz com coalhada, mas minha mãe ainda fazia uma cabeça de galo pra meu pai que chegava bêbado, e assim era nossa vida, só mudava nas farturas de milho e feijão, nesse tempo a briga era pra rapar o caldeirão da canjica, a pamonha dava um bucho inchado danado, mas eu não parava de comer, era tempo de mungunzá, de feijão verde com maxixe e quiabo na panela, de bucho realmente cheios.

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